Maria Lopes

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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Saudades não as Quero

 Maria Lopes e Artes.

Saudades não as Quero



"Difícil se torna, dada a vastidão da obra de Afonso Lopes Vieira, enumerar todos os escritos saídos da sua pena. Muitos deles acham-se disperses por grande número de jornais e revistas, sob a forma de artigos, cartas e entrevistas".


Afonso Lopes Vieira

Portugal




Saudades não as Quero

Bateram fui abrir era a saudade
vinha para falar-me a teu respeito
entrou com um sorriso de maldade
depois sentou-se à beira do meu leito
e quis que eu lhe contasse só a metade
das dores que trago dentro do meu peito

Não mandes mais esta saudade
ouve os meus ais por caridade
ou eu então deixo esfriar esta paixão
amor podes mandar se for sincero
saudades isso não pois não as quero

Bateram novamente era o ciúme
e eu mal me apercebi de que batera
trazia o mesmo ódio do costume
e todas as intrigas que lhe deram
e vinha sem um pranto ou um queixume
saber o que as saudades me fizeram

Não mandes mais esta saudade,
ouve os meus ais por caridade,
ou eu então deixo esfriar esta paixão,
amor podes mandar se for sincero,
saudades isso não pois não as quero.

Afonso Lopes Vieira, in 'Antologia Poética'https://www.citador.pt/poemas/saudades-nao-as-quero-afonso-lopes-vieira
Veja mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Lopes_Vieira

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Afonso Lopes Vieira, cativou leitores em Portugal e no Brasil.

Maria Lopes e Artes

Afonso Lopes Vieira, cativou leitores em Portugal e no Brasil.




O autor em epígrafe deixou uma indelével marca na história da literatura em língua portuguesa. Nascido em Leiria, a 26 de janeiro de 1878, dono de um virtuosismo encantador e de singular afetividade, foi um profícuo homem de letras e um precursor do cinema e da fotografia. A sua veia literária, além da poesia, das conferências e dos textos para a tenra infância, estendeu-se, também, para as adaptações e as traduções.

Dividindo a sua existência entre o seu solar lisboeta e a sua casa de veraneio em São Pedro de Moel, passou os seus dias a ler, escrever e a reunir amigos à sua volta. Viajado, culto e profundamente dedicado à sua obra literária, construiu em torno de si uma áurea de perfeito esteta, sendo toda a sua atividade literária adornada por harmoniosas aspirações renascentistas.

A sua obra coloca-o no movimento cultural conhecido como Renascença Portuguesa, conferindo-lhe, também, o epíteto de “um dos primeiros representantes do Neogarrettismo”. Fundador e redator da revista “Lusitânia” e colaborador de inúmeros periódicos, entre eles “Atlântida”, “Revista de Turismo”, “Contemporânea”, “Serões”, “A República Portuguesa”, “Ordem Nova”, etc., conseguiu manter um percurso sem oscilações, sendo íntegro nos seus propósitos artísticos.

João do Rio (1881-1921) dizia dele: “Fisionomia impressionadora a de Afonso Lopes Vieira, grande poeta da geração nova. Tipo quente de português, com o cabelo caído sobre a testa e a cor morena dos pescadores, corrigido, ou antes, acentuado por uma sóbria elegância londrina. Vejo-o a conversar. Uma correção de dandy, uma finura ducal, o ar fatigado de um mundano.”

Afonso Lopes Vieira, com a sua literatura, cativou leitores em Portugal e no Brasil, embora, alguns críticos do passado digam que na poesia é considerado um poeta menor, pois não trouxe renovação nos temas e no estilo, o certo é que o seu estro deu voz à realidade despretensiosa e genuína de um Portugal a quem não era permitido expressar-se, pois não pululava pelos salões da elite de então.

Segundo Jaime Cortesão (1884-1960): “Este homem, tão enamorado do passado, tinha a inquietação do presente e procurava, com inquietação igual, devassar o futuro. Português de lei e, por isso mesmo, combinava muito a seu modo, na política, na arte e na vida, o casticismo das tradições com o universalismo das ideias novas (…) Aristocrata por temperamento, arrostou com bravura as consequências da sua paixão morganática pelo povo. E nos últimos anos de sua vida esteve em oposição franca e combativa ao governo totalitário de Portugal. Passava, e cada vez mais, longas temporadas na sua casa de S. Pedro de Moel, entre as ondas, o céu e os homens do mar. Deixou em testamento essa linda vivenda para servir de asilo aos pescadores. Viveu e morreu em beleza. Fez da vida uma obra de arte, uma afirmação perene de fé e um belo auto de amor à terra e ao povo.”

Afonso Lopes Vieira faz-nos refletir sobre os horizontes da literatura. O último ato da sua vida ocorreu a 25 de janeiro de 1946, um dia antes de completar 68 anos de idade.

Álvaro Pinto (1889-1957) remata-nos: “…famoso desde Coimbra pelas suas quadras e pelos requintes de artista raro, foi dos poetas deste século um dos que mais nobremente cultivaram o lirismo puro e o amor ilimitado pelos nossos clássicos. A ele se deve uma persistente campanha vicentina, que trouxe para os palcos portugueses e para a bibliografia dos últimos 40 anos as obras imortais do fundador do teatro nacional. A Afonso Lopes Vieira se deve igualmente o recrudescimento dos estudos camonianos, que, a par das suas obras originais e primorosas reconstituições de velhos textos, tinham seu espírito profundamente lusitano em permanente criação de Cultura.”

Longa vida literária a Afonso Lopes Vieira. Um autor do Oeste, com pujança nacional.

https://ruicalisto.blogspot.com/2023/02/afonso-lopes-vieira.html