Maria Lopes

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sábado, 4 de junho de 2016

Jongo é Cultura e tradição em Valença.

Jongo é Cultura e tradição em Valença. 
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Jongo para Iemanjá - Griot, tribal, dandalua.wmv


Enviado em 3 de fev de 2012
Jongo realizado no dia 02 de Fevereiro para Iemanjá, estiveram presentes os grupos Griot, TRIBAL, Dandalua e Cia. Folclórica da UFRJ.
Este vídeo é um Registro feito pelo núcleo

Jongo e tradição em Valença
Quilombo de São José terá fim de semana de festa pela liberdade
Os tambores sagrados do jongo
Os tambores sagrados do jongo  (Foto: Fernando Souza)
Quilombola com seu instrumento
As crianças tem contato com a tradição através do jongo
Os quilombolas conquistaram seu direito a terra através do jongo
Os mais velhos passam a tradição do jongo para os mais novos
"No dia treze de maio,
é um dia muito bonito.
Todos pretos se reúnem,
meu Deus do céu,
pra saravá São Benedito"


A letra acima é de um jongo, ritmo tradicionalmente dançado no dia 13 de maio em homenagem aos pretos velhos e que na última década tomou os palcos do Brasil e do mundo. Muito mais do que uma dança, o jongo foi a arma utilizada pelos moradores do Quilombo São José, em Valença, na luta pela sua garantia de propriedade e pela preservação da cultura negra. Nos próximos dias 15 e 16, sábado e domingo, a comunidade abrirá novamente suas portas e estará em festa, comemorando, além da histórica abolição, mais um passo na conquista do direito a terra. Isso porque, em novembro passado, o Governo Federal assinou decreto de reconhecimento da comunidade como área de interesse social, a última etapa para concessão da terra para os moradores do quilombo de São José.

A festa do jongo, que acontece nesse fim de semana no quilombo, traz, além da dança, vários outros atrativos da cultura tradicional da região. Estarão presentes o calango, a folia de reis, as rezas, a medicina natural, a venda de produtos da agricultura familiar e do artesanato tradicional, e a já famosa feijoada, como avisa Toninho Canecão, líder do Quilombo:

"Nessa quinta nós já compramos o material pra fazer uma boa feijoada e receber todo mundo! Estamos montando as barracas e guardando um público maior do que no ano passado, que já foi de 2.500 pessoas" explica o irmão de Mãe Tetê, mãe de santo da comunidade. Cabe a ela, como líder espiritual do quilombo, um dos momentos mais emocionantes da festa: benzer todos os participantes, ao redor da fogueira, antes do jongo correr solto. "Antigamente nossa festa era fechada, só para os quilombolas, mas a partir da década de 1990 começamos a abrir a festa para o público em geral e hoje em dia já podemos notar que mais de 80% das pessoas que participam são de outras regiões."

O São José é um dos mais tradicionais quilombos em atuação no país. Ocupada pela mesma família, há cerca de 150 anos, a área de casas de pau a pique e telhado de palha conta hoje com mais de 200 moradores descendentes da etnia Bantú - com origem na antiga região do Congo-Angola (África Subsaariana) Tudo começou quando o fundador da comunidade, Pedro, veio em um navio de Angola para trabalhar nas lavouras do Vale do Paraíba, mais especificamente na Fazenda São José. Após o declínio da produção de café na região, seus descendentes continuaram morando nas terras onde antes tratavam o produto.

O músico Marcos André foi um dos primeiros a ter contato com a festa e as tradições da comunidade quilombola: 

"Fazia parte do Jongo da Serrinha, do mestre Darcy, e começamos a descobrir outros grupos que haviam no estado. Tive meu primeiro contato com o Quilombo São José em 97 e foi como descobrir o berço do jongo. Lá não tinha luz, que só chegou há quatro anos, e por ser um grupo composto por agricultores, todos da mesma família, que casavam entre si, ainda mantém quase o mesmo cenário de um século atrás."

jongo é utilizado também como forma de manter as origens e passar a tradição da cultura negra. A dança que veio da região de Congo-Angola para o Brasil, na época da escravidão, reverencia os ancestrais, os preto-velhos, e associa o religioso com o profano, já que é dançada de forma respeitosa, com os pés descalços e roupas utilizadas no dia a dia. Tambores sagrados são postos ao ar livre, onde dançarinos se benzem antes de começar a evoluir ao redor da fogueira com passos ritmados embalados por músicas que são passadas de geração a geração. Através da letra dos jongos, coalhadas de termo poéticos e de referências aos antepassados, os mais velhos passam sua tradição para os mais jovens, em um processo natural de transferência de memória oral e coletiva.

Festa e cidadania


Segundo Toninho, a comemoração do dia 13 de maio foi essencial para melhorar a estrutura do Quilombo:

"Nossa festa já foi capa de revista no Japão e manchete de jornal nos EUA, além de ter gerado o contato da comunidade com pessoas de todo o Brasil e do mundo afora. Hoje em dia a festa ajuda muito o nosso quilombo, já que conseguimos investimentos e melhorias estruturais, assim como adquirimos conhecimento para poder lutar pelo direito à nossa terra."

No dia 20 de novembro de 2009 o Presidente Lula assinou um decretoque levou à última etapa para a concessão do direito de propriedade da terra para os moradores de dois quilombos do estado, o de São José e o de Preto Forro, em Cabo Frio. Logo, a festa do próximo final de semana terá mais um motivo de comemoração: 

"Queremos nos manifestar a favor do direito de terra, além de poder ajudar outras comunidades que passam pelo mesmo processo" disse o líder da associação, que complementou: "sonhamos com o dia em que o proprietário dessas terras seja afastado. Ele chegou a oferecer dois bois por ano para que evitássemos a entrada de outras pessoas no nosso festejo. Tudo isso, porque a festa foi muito boa para nossa comunidade, já que adquirimos respeito internacional e nos fortalecemos na luta pela propriedade."

O jongo, hoje reconhecido como Patrimônio Imaterial, foi utilizado como instrumento para conquista da cidadania naquela região, já que o interesse das pessoas de fora, caracterizado como turismo étnico, deu força à comunidade, que também ganhou mais destaque com o documentário O Jongo ? Ritual e Magia no Quilombo São José, que pode ser visto aqui. De acordo com Marcos André, o uso da dança foi estratégico: 

"O mundo globalizado se volta para as identidades locais, buscando conhecer suas tradições. A partir disso, a comunidade quilombola ganhou visibilidade através do jongo, que trouxe fama e força tanto para região quanto para seus moradores. Todas as conquistas feitas pelos quilombolas são reflexo do poder da dança."

E as conquistas não foram poucas. Além da assinatura do decreto do presidente Lula e da chegada da luz elétrica, a comunidade recebeu tratamento de água e esgoto assim como melhorias na estrada que dá aceso ao Quilombo São José, hoje em dia facilmente encontrado devido às placas de sinalização instaladas há poucos anos. Além disso, segundo Toninho Canecão, hoje em dia quase todos os quilombolas da comunidade estão alfabetizados e a prefeitura de Valença presta a assistência necessária em relação à educação e assistência médica. A comunidade, então, sobrevive conservando suas raízes e com a dignidade que merece. 

Colaboração de Gustavo Durán (Na postagem original

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